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Jean-Baptiste Camille Corot. Floresta de Fontainebleau. |
2. Mas, daí, advém uma dúvida: torna-se má pelo livro ser mal ou por uma outra coisa? Uma leitura não poderia ser considerada má por si mesma, ou seja, pelo fato de alguém ler algum livro ou mesmo um curto texto. Contudo, se um leitor busca um acalento nas palavras e é exposto à realidades indesejadas, o que é possível concluir?
3. Exemplificando, se um leitor, em estado de espírito pacífico, deparar-se com uma leitura penosa, ou cujo tema se resvala em assuntos mais cáusticos, talvez perca sua paz. Neste ponto, tendo em vista seu tempo, embora o livro não seja ruim, quem sabe sendo até mesmo importante, estaria sendo inapropriado naquele momento.
4. E a leitura de um caderno de piadas em um velório? Mesmo a menor risada seria ultrajante. Também é possível pensar em quem lê “Mein Kampf”, de Adolf Hitler, ou “O Capital”, de Karl Marx, mas sem desejar ser nem nazista, nem comunista, quando ao certo busca saber mais sobre suas influências na sociedade.
5. Contudo, precisa-se perceber um fenômeno na leitura, dado quando o leitor passa, ao invés de usar um livro, a ser consumido por ele — que é a influência exercendo sua finalidade. Se um autor pode, para alguém, exercer poder através daquilo que escreveu, então que sejam evitados os maus, procurando-se os bons (vide parágrafo final).
Porém, há quem faça da Sagrada Escritura um verdadeiro livro demoníaco ao enviesá-lo às convicções umbilicais.6. Diz-se isto no sentido de que se alguém for facilmente influenciável, distancie-se das más influências e procures as melhores inspirações. Porém, há quem faça da Sagrada Escritura um verdadeiro livro demoníaco ao enviesá-lo às convicções umbilicais. Então o leitor acaba sendo justamente o intermédio entre o texto e a realidade.
7. Há católicos que não leriam “Harry Potter”, de J. K. Rowling, por seu conteúdo supostamente influenciar os leitores às práticas de bruxaria, mas sem medo leem “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien, que tem elementos inspirados em mitologias que dialogam por acidente com crenças pré-cristãs. E o que isto quer dizer?
8. Que J. K. Rowling abordou valores de amizade, sacrifício e combate à maldade, razoáveis aos católicos, mas com elementos da magia (neo)pagã do Renascimento, que só são influências se quiser muito o leitor que sejam. Já J. R. R. Tolkien no “Gênesis” de “O Senhor dos Anéis”, qual seja, “O Silmarillion”, trouxe sem querer certo paralelos.
9. Paralelamente, “O Silmarillion” apresenta elementos das cosmovisões sumérias e védicas, mas que por tal similaridade, J. R. R. Tolkien não deve ser tido por não católico, assim como J. K. Rowling não é uma “wiccana” por ter escrito “Harry Potter”. Confusão dada pela leitura como sendo um viés de confirmação à próprias convicções do leitor.
10. Contudo, se um livro se apresenta como forte influência ao leitor, ao ponto de fazer sumir sua paz, ele deve evitar sim essa obra, mas mais por sua condição singular ao invés de elementos trabalhados pelo autor, pois, como dito ao longo deste artigo, aquele que lê faz ponte entre o texto e a realidade, em si mesmo ou em coisa alheia.
11. Importa lembrar que existem leituras para esquecer, mas do quê? Da vida, de responsabilidades? Não! De que se pode em certos livros encontrar uma diversão para abrandar a alma e acalmar a mente, mesmo para voltar à rotina. Engana-se se pensa que são meras distrações quando, na verdade, muitas delas estão repletas de lições.
12. Por fim, como se deve avaliar se um autor é bom ou não? Pelas obras e como essas influenciaram ou inspiraram a sociedade. Autores cometem equívocos, mesmo os santos, porém, podem e devem sempre isentar o leitor desses erros ao tratá-los nos textos. Se insistem em errar, logo se conclui como critério que não são recomendáveis. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Pra Quê Ler? Enquirídio. Maceió, 05 jul. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/07/pra-que-ler.html.
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